Uma beleza à moda grega

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Por vezes fica parecendo que blog se encerra no debate sobre a moda, contudo é importante também destacar outros tipos de moda que existem hoje, as quais vão além do vestuário. Hoje em dia, a beleza física entrou como um fator importante para nossa sociedade, ao ponto de Mike Jeffries (dono da marca de roupa H&M) dizer que sua marca não era para ser usada por pessoas feias. Um verdadeiro escândalo para a moral atual, mas afinal todos não fazemos a mesma coisa que ele? Distinguindo pessoas entre feias e bonitas?

A busca pela beleza não é uma coisa nova e ela acontece desde os primórdios do homem. Na Antiguidade a mulher mais cheinha fazia mais sucesso que a magra, pois afinal em um tempo de pouca comida a “magreza” era parte habitual de uma sociedade que não tinha um histórico de comida muito farta. A procura da beleza é originária de um processo complexo que procura, através de fatores culturais, sociais e ambientais, privilegiarem certas características estéticas que validam a aceitação de um membro em determinada cultura. A beleza é um processo de aceitação de um membro através da pressão da sociedade para que ele se adéqüe. Tal qual a moda, a beleza estabelece um vínculo de identificação de um individuo em um dos diversos nichos da sociedade, o situando e o qualificando. Creiam ou não, nosso conceito de beleza mudou, mas a forma que construímos o belo continuou intacta desde a Antiguidade, e neste vale ressaltar os gregos. Esta civilização é a origem dessa matriz que desregulou a nossa sociedade atual. É através do conceito de beleza ideal dos gregos que se fundamenta muito do sofrimento de nossa época. Devo ressaltar que o modo como os gregos viam a beleza em sua época era diferente do nosso tempo, mas o que sobreviveu não foi a percepção da beleza dos gregos e sim o ideal, a forma chave para se constituir o ser perfeito esteticamente em uma sociedade.

O processo de construção da beleza na antiguidade se resumia no seguinte exemplo:

Quando o escultor ia fazer o rosto da deusa Hera, ele sabia que não haveria um rosto para retratar tamanha beleza. Ele então escolhia as cinco jovens mais belas de uma cidade e pegava a melhor parte do rosto de cada uma das cinco e esculpia o rosto da deusa.

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“O princípio da arte como mimese ou imitação não contradiz o conceito da arte como invenção do belo: mimese não é a cópia do que o artista vê, mas confronto e escolha das partes mais belas para alcançar a recomposição de um conjunto belo, ou seja, de natureza não mais empírica, mas ideal.” (Argan, Giulio Carlo; História da Arte Italiana: Da Antiguidade a Duccio; 1968)

Se olharmos para o nosso tempo, a pintura e a escultura que procura retratar uma beleza ideal desapareceu, mas no mundo da publicidade essa “beleza grega” continua viva. Através do Photoshop! Não vamos falar do programa, pois seria ingênuo acharmos que essa construção de beleza ideal foi ressuscitada pelo Photoshop, quando ela nos foi dada desde o fim do século XIX e inicio do século XX. Em uma sociedade guiada por um capitalismo selvagem, tudo pode ser um produto passível de ser vendido, desde que haja alguém que queria comprá-lo. E a aparência é um produto que é vendido para que você caro leitor compre, mas não de uma forma com inúmeras opções, pois esta área da moda ainda é ditada.

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“A beleza é feita de um elemento eterno, invariável, cuja quantidade é excessivamente difícil de determinar, e de um elemento relativo, circunstancial, que será, se quisermos, quer alternadamente ou ao mesmo tempo, a época, suas modas, a moral, suas emoções. Sem este segundo elemento, que é como que o glacê divertido, atraente, apetitoso do bolo divino, o primeiro elemento estaria acima de nossa capacidade de digestão ou de apreciação, não sendo nem adaptado nem conveniente à natureza humana. Desafio qualquer pessoa a apontar um único fragmento de beleza que não contenha esses dois elementos.” (Roland Barthes; The Fashion System; Berkeley; CA; 1983)

O mundo atual vive a era das ilusões, um mundo onde a beleza é ditada por aquilo que nem existe de fato, e esta é a diferença entre o modo de ver o belo dos gregos com o do ocidente atual, pois ao menos os gregos construíam o belo por aquilo que conheciam. A modelo que sofre inúmeras alterações para uma capa de revista pode ser um modelo de beleza, quando entre a modelo a capa há inúmeros retoques que fogem da realidade?

Exemplos de vídeos que abordam essa forma de construir o belo:

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